terça-feira, 2 de outubro de 2007

Animes, RPGs, e outros gostos "polêmicos"...



Primeiramente, peço desculpas à todos pelo breve "recesso": os trabalhos da faculdade, gente mudando da e para a república onde moro, e - devo admitir - uma boa dose de preguiça me fizeram descuidar um pouco do blog. Sinto muito!

Em compensação, estou hoje trazendo um assunto o qual invariavelmente qualquer jogador de computer-games em geral (e não só os de jogos online) acaba topando mais dia menos dia: Animes, R.P.G.'s e outros gostos tidos como polêmicos. E, só pra constar: é relativamente tão longo quanto foi o recesso (afinal, o assunto é bem extenso)...

Para aqueles que não têm uma completa compreensão do assunto, vai uma rápida explicação sobre cada um destes gostos:

  • Animes - São desenhos animados como quaisquer outros, tal qual Pica-Pau e Tom & Jerry. A grande diferença dos mesmos é que, por advirem de culturas orientais (mais frequentemente do Japão), SEMPRE possuem uma mensagem de fundo para transmitir, como uma "moral da estória". Outra característica marcante é o traço altamente estilizado - afinal, o mais importante alí é justamente a história, não as personagens. As palavras de ordem aí são "pense, reflita, raciocine";
  • R.P.G.'s - Sigla para "Role Playing Games" ("Jogos de Interpretação de Papéis" em uma tradução livre; ou "Jogos que você 'vai jogando'" numa tradução literal - devido a característica de uma partida poder se desdobrar em diversas sessões de jogo até sua conclusão), como o próprio nome já diz a intenção é "vestir a pele de outra pessoa e vivenciar sua vida". Em uma associação simples, seria o mesmo que uma peça de teatro - contudo sem um diretor para coordenar suas ações. Você é quem deve raciocinar e concluir qual seria a forma que seu personagem enfrentaria cada situação com a qual ele se deparar;
  • Computer Games & Jogos Online - Inicialmente a idéia deste tipo de diversão é evoluir uma personagem até que a mesma se torne forte (de preferência a mais forte dentre todas do jogo). Isto é uma herança deixada pelos seus "progenitores", os jogos de video-game. Entretanto, por ser uma espécie de diversão onde você interage com outras pessoas (geralmente em tempo real) e aspectos ambientais destes jogos, muitas vezes você é levado a interpretar aquela personagem e sua interação com o mundo onde ela se encontra. Muitas vezes o próprio cenário também incentiva isso - jogos como Ragnarok, Perfect World e até mesmo PangYa costumam demonstar isso, com sua riqueza de detalhes e desafios secundários disponíveis. A própria flexibilidade e liberdade de ação - sem uma linearidade a se seguir - são pontos fortes neste sentido;
  • Cosplay - Aqui o objetivo é se divertir vestindo-se como uma personagem qualquer que a pessoa goste e/ou deseje interpretar. Até aí, nada de mais, afinal há vários grupos que fazem isso, mesmo que isolados apenas no conforto de suas casas, ou em convenções próprias para isto: trekkers, aficcionados por Star Wars... Enfim, qualquer coisa que se torne "cult" logo terá sua legião de seguidores vestindo-se igual aos seus "ídolos".
    Entretanto, no caso do Cosplay isso muda um pouco de figura: a intenção não é simplesmente se vestir como o personagem X por que o mesmo tem um visual 'maneiro', ou como o personagem Y pelo mesmo ser famoso! Justamente devido ao fato dos cosplays derivarem de animes (que, por sua vez - leia acima -SEMPRE têm uma mensagem a transmitir) a simples confecção e estudo da roupa leva a uma reflexão do motivo do personagem se vestir de tal maneira. Se usa um sobretudo, pode ser por querer mostrar que o mundo não irá "contaminá-lo" com sua impureza. Se tem cabelo comprido, provavelmente quer demonstrar seu anseio por liberdade perante à regras já defasadas. Se se veste de preto, é para demonstrar tristeza com algo que afeta à todos. E por aí vai...
Uma vez definido quem é o quê, vamos ao que interessa. Que é o debate do porquê estes gostos serem polêmicos, porquê diversas pessoas os vêem com maus-olhos.

Uma frase que vem bem a calhar acerca deste assunto é "O que o homem não entende, o homem teme, e o que o homem teme, ou tenta afastar, ou tenta destruir" (quem já leu ou assistiu X-Man deve conhecer bem esta frase)! Veja que a própria frase expressa, e bem, uma ação instintiva do ser-humano! E, se é instintivo, logo é algo "animalesco", não-humano! Humano seria procurar entender aquilo que não é entendido; seria procurar conhecer melhor aquilo que é desconhecido! Contudo, hoje o ser-humano em geral tem se acomodado frente à cada vez mais crescente onda de facilidades oferecidas pelos avanços nas mais diversas áreas científicas; de modo que, se ninguém disser à ele que tal coisa é benéfica (ou, ao menos, não é maléfica), logo ele tentará afastar aquilo de sí, ou então destruir tal objeto.

E o pior ainda nem é isso, mas sim quando alguém - mal-intencionado, ou mal-informado - faz uma campanha contra determinado assunto e as pessoas aceitam essa campanha como sendo a verdade absoluta! Já abordei um assunto parecido, aqui mesmo nestas páginas (vejam a penúltima publicação: "Hoaxes, Spam e outras mentiras da Net"), dizendo o tamanho a que podem chegar as conseqüências desta morosidade em acurar ou não a veracidade de uma informação. É tão cômodo aceitar tudo aquilo que nos 'enfiam goela abaixo', uma vez que estamos acostumados a ser beneficiados pela mídia, que acabamos perdendo, assim, nossa própria individualidade, e de quebrar minamos também a individualidade alheia!

Confesso que é difícil resistir ao apelo da mídia: há muitos benefícios em meio às informações que ela nos trás. Oportunidades de emprego, produtos que facilitam nossas vidas, informações sobre o clima, e toda a sorte de coisas que soubemos por meio dela que nos beneficiaram. Também admito que nem sempre tenhamos disponibilidade (ou até mesmo necessidade) de apurar se uma informação é correta ou não. Só não podemos esquecer que a mídia é controlada por humanos e, por sua vez, é passível de falhas (na melhor das hipóteses). E, da mesma forma que NÓS tendemos a afastar e/ou destruir aquilo que desconhecemos/não entendemos, os humanos que controlam a mídia TAMBÉM tendem a fazê-lo.

Um exemplo muito comum são as campanhas eleitorais: não é curioso que os mesmos candidatos que parecem tão bons, generosos e qualificados em tempos de eleição ressurjam logo após serem eleitos como pessoas desonestas, mesquinhas e cruéis pouco tempo depois de serem eleitos? E a culpa é de quem? Dos candidatos, ou da própria mídia?

É a mesma coisa que acontece com os adeptos destes tipos de diversão (mas de maneira invertida): a mídia - ou até mesmo a opinião popular em geral - os taxa como maus elementos, enquanto são, na verdade, boas pessoas, como eu ou você. Qualquer coisa negativa que os envolva, e logo o motivo apresentado para tal negativismo é justamente o seu inofensivo hobby que nunca causou mal a ninguém, ignorando-se detalhes mais importantes como a sanidade mental ou os valores incutidos em suas educações.

Outro exemplo: "Chinês morre após maratona na internet". Leiam a reportagem (é mais curta que minhas publicações). Vejam como o texto é tendencioso, acusando a rede mundial de computadores da causa da morte do indivíduo. Vejam ainda o pouco caso dado aos conceitos morais da rígida educação-padrão chinesa ("(...) A China, preocupada com expansão da pornografia e do conteúdo politicamente incorreto, proibiu a abertura de novos cibercafés neste ano (...)"). Para bom entendedor, "meia pá bá". É óbvio que quando confrontados com algo que sempre lhes foi privado e exposto como proibido, de forma tão livre e aparentemente benéfica (ou seja, contradizendo tudo que aprenderam até então), a reação esperada é que se fartem desmedidamente sem medir as conseqüências. Aí pergunto: a culpa é da internet em sí, ou da educação e valores dados à esta comunidade? Você consegue manter segura uma bacia de carne crua em frente à um cão faminto?

E outro exemplo: "Assassinos tentam culpar RPG por crime no ES". Como pode-se ver na matéria - também totalmente tendenciosa e arbitrária - o argumento dos criminosos de que o R.P.G. seria o 'responsável' pelas mortes é prontamente aceita pela imprensa. Entretanto, a ocorrência de furto de um micro-computador (algo bem mais valioso na época que atualmente) e um provável seqüestro relâmpago com lucros rondando o valor de R$ 4.000,00 são relegados à segundo plano. O fato dos criminosos também já possuírem uma arma de fogo também. E, mais uma vez, pergunto: não é mais fácil 'jogar a culpa nos outros' (no caso, o R.P.G.), abrandando assim sua pena, ao invés de admití-la, e arcar com todas as conseqüências?

E, MAIS UM exemplo: "Assassino afirma ter se inspirado em GTA". Neste caso, a notícia não aborda maiores detalhes, mas o caso é famoso: em 2003, um adolescente de 18 anos sem nenhum motivo aparente (tinha relativa estabilidade econômico-social) comete um furto, foge, e ao ser interceptado saca o revólver de um dos policiais e os mata sem hesitar. Quando questionado do motivo, simplesmente alega que "a vida é como um jogo, onde se morre apenas uma vez". Típico comportamento de alguém desprovido de discernimento entre valores de certo e errado. Ou então podemos ver o também famoso caso do Massacre de Columbine, motivado pela prática de bullying pelos colegas de escola dos autores sobre os mesmos. Agora, a recorrente pergunta: alguém com problemas psico-mentais não ofereceria riscos fossem quais fossem os meios onde o mesmo estiver inserido? A "culpa" é do 'objeto motivador' ou da interpretação distorcida do mesmo? E isto não pode acontecer em QUALQUER LUGAR?

E, para finalizar, um exemplo que vemos quase todos os dias, mas não se dá o "devido valor" justamente por ser algo TÃO corriqueiro: "Promotor pede prisão preventiva dos acusados de matar torcedor". Aliás, uma simples pesquisa no Google me retornou o "modesto" número de CENTO E DEZESSEIS MIL RESULTADOS, a grande maioria com conteúdos relevantes sobre o assunto. Dos outros três (ou quatro) exemplos citados acima, confesso que tive que procurar MUITO para encontrar algo mais expressivo.

Agora, provavelmente você está se perguntando: "Mas por quê cargas d'água ele me fez questão de mostrar TRÊS exemplos NEGATIVOS sobre o assunto que ele está DEFENDENDO, e APENAS UM à favor? E isto considerando-se que este último exemplo nem é lá muito relacionado ao assunto..." Bem, se você realmente enxergar estes exemplos desta forma, então sinto muito em lhe dizer mas, de acordo com psicanalistas e outros especialistas da área, você tem uma grande tendência a se tornar mais um destes exemplos, seja qual for o objeto de sua diversão! Pois não se trata simplesmente da diversão em sí, MAS DA PESSOA QUE DETURPA ESTA DIVERSÃO!
QUEM MATA NÃO É A ARMA, MAS SIM A MÃO QUE A SEGURA!

Aqueles que me acompanharam no PangYa (em especial nos momentos finais do servidor) entenderão bem o que quero dizer: naquela época admití abertamente ter usado cheats (programas usados para trapacear no jogo) com o intuito de estudá-los e, dessa forma, encontrar uma maneira de combatê-los. Fazia isto inclusive com certo apoio da equipe de gerenciamento do jogo, uma vez que os cheats em sí eram prejudiciais e nocivos (com estes programas as pessoas podiam obter benefícios antes só conseguidos mediante à pagamento para a empresa mantenedora - algo que, por sua vez, custeava a manutenção de tal jogo em nosso país. Ou seja, sem vendas, sem dinheiro para bancar o jogo, sem jogo para nos divertirmos)!

E, notem que, eu não me encontrava em um "meio suspeito, com companhias suspeitas"... Eu me encontrava em meio a algo comprovadamente nocivo e maléfico! Entretanto, me aconteceu algo de ruim (ou pior, eu FIZ algo de ruim)? Não! Justamente pelo meu CARÁTER E MORAL terem, de certa forma, me protegido!

"Bah! Mas SÓ no computador não haveria risco nenhum!" vocês provavelmente irão dizer... E eu retruco com um "Não mesmo? Olhe logo acima, onde digo que um chinês MORREU 'de tanto usar' UM COMPUTADOR?!?" Se o problema ainda fôr 'virtualidade x realidade', saibam que já tive de cuidar de um bar onde freqüentemente tinha contato com bandidos e traficantes, além de já ter trabalhado também como segurança patrimonial de eventos. Acho desnecessário informar os riscos inerentes às duas ocupações, certo?

Minha mensagem então é: talvez, e muito provavelmente, há muito mais riscos envolvidos com temas "do cotidiano" do que relacionados à "gostos estranhos". Tomem por base que, a priori, alguém com estes gostos estranhos está se expondo muito mais que quaisquer outros na sociedade. Justamente por se destacar em meio ao "comum", as pessoas que optam por estes tipos de diversão e/ou hábitos "suspeitos" se sujeitam muito mais ao policiamento da sociedade que as pessoas "normais". Justamente por ser do ser-humano a curiosidade pela vida alheia. Exemplo maior (OUTRO?!? @_@') disto são as famosas e incessantes edições do Big Brother por todo o planeta! Onde o telespectador tem a ILUSÃO (sim! Ilusão! Você não acredita mesmo que aquilo tudo é decidido de forma "honesta" e imparcial, sem qualquer tipo de manipulações, acredita?!?) de "ter controle sobre o futuro da vida" dos participantes...

Outra coisa é: se vocês se preocupam TANTO com essas "diversões esquisitas" e com o bem de quem pratica, então PESQUISEM! Se informem sobre o assunto! Conheça o tema! Discuta sobre ele com quem já o conhece, para saber seus prós e seus contras! Se quem você quer "proteger" é um parente ou amigo mais próximo, converse com esta pessoa para saber o quê naquilo o faz sentir-se bem para compreender isso!
Mas faça-o com o espírito aberto e limpo, sem carregar pré-conceitos consigo (me refiro à conceitos PREVIAMENTE FORMADOS, não uma visão negativa - muito embora a segunda coisa geralmente tende a ser também a primeira).


Pois, às vezes, vocês podem estar supervalorizando o assunto errado; e até mesmo se privando de coisas que, na verdade, lhes agradariam em muito!


Digitação interrompida às: 18:35PM, 2 de Outubro de 2007.
Digitação retomada às: 21:45PM, 2 de Outubro de 2007.
Hora de finalização da postagem: 12:50AM, 3 de Outubro de 2007.
Se vocês reclamam do trabalho de ler aquilo que escrevo, imaginem o trabalho que tenho em REDIGIR tudo isso! Ufa!


PS: Em uma postagem futura (muito possivelmente a próxima) retornarei ao assunto, desta vez citando casos específicos de benefícios que podem ser obtidos por meio destes meios de diversão tão difamados. Isto por que este assunto ainda reserva muito 'pano para mangas'!

Nenhum comentário:

Posts Relacionados com Thumbnails